A história de um épico do rock, gravada da cozinha
Documentário recria a temporada dos Rolling Stones no sul da França, para a gravação de um dos melhores discos da banda, 'Exile on Mains St.'
Nos dias de hoje, a repetição das insanas sessões de gravação de uma das obras-primas do rock no verão de 1972 invariavelmente poderiam conduzir os Rolling Stones à cadeia. A materialização de Exile on Main St., registrada em filme e, este ano, editada em um documentário de 61 minuntos, teve como pano de fundo uma mistura muito além dos limites da irresponsabilidade da fórmula sexo, drogas e rock’n’roll.
Na mansão do Sul da França onde a banda se exilou para exorcizar problemas com o fisco e com a imprensa do Reino Unido, as drogas eram consumidas com uma naturalidade assustadora. Os Stones se inspiravam – e aspiravam – em meio às crianças que, com as famílias, acompanharam o exílio, e pelo menos uma delas enrolava os ‘baseados’ que ajudavam a calibrar os músicos enquanto Mick, Keith e companhia calibravam os instrumentos.
Stones in Exile, documentário em cartaz no Festival do Rio deste ano e que teve uma única exibição no canal Multishow, é bem mais que a história de como o épico LP foi concebido. Sem pretensões além de documentar o rock e o momento da banda, o filme acaba retratando a atmosfera de descontração ingênua que, no fim dos anos 60 e início dos 70, engoliu boa parte dos astros do rock. Os Stones, para o bem do rock, deles próprios e de uma legião inimaginável de fãs, sobreviveram para contar a história. E o fazem de forma divertida no documentário, que mistura gravações na França, recortes de jornal sobre a má fase da banda na Inglaterra, fotográficas e depoimentos de fãs ilustres.
Para quem conhece o disco – e quem não conhece vai querer conhecer – é curioso descobrir o que originou alguns timbres inimitáveis de ‘Exile’. No subsolo da mansão, sem qualquer tratamento acústico, músicos e operadores de áudio tinham que experimentar de tudo – e não estamos mais falando só de drogas. Era necessário, por exemplo, isolar alguns instrumentos em um cubículo, ou captar alguns solos de guitarra à distância, deixando as paredes impregnadas de umidade do sótão dar sua contribuição.
Tudo era registrado no lendário caminhão-estúdio dos Stones – o mesmo que tem, no currículo, gravações para uma série de bandas nos anos 70, entre eles o Led Zeppelin, que recorreu à banda ‘concorrente’ para algumas das experiências sonoras do místico guitarrista Jimmy Page.